quinta-feira, 18 de abril de 2013

Uma certa fulana de Cataguazes

A velha miúda já mancava com frequência;  e chegou-se a mim com os olhos arregalados, deixando que transparecesse um azulado vivo em riscos esverdeados.
          A pele não retinha flacidez alguma, e as mãos tremiam feito vara imatura. Algumas cusparadas acidentais saltavam-lhe dos lábios agitados enquanto narrava com atenção
         Contou-me a respeito da casa de irmãs em que estudara quando jovem (Era um prédio situado nas terras de Cataguazes, defronte a uma praça de centro, onde os namorados sorriam alegres). E também sobre seu magistério e suas licenciaturas tantas, que serviram de bom grado a um pobre rapaz da roça, sem dinheiro, que conseguiu alfabetizar-se pela bondade da eloquência evidente da mulher.
          Filha de suíços e italianos, havia sido criada sob princípios demasiado católicos, e a intervalos regulares, erguia suas mãos marcadas pelo tempo à glória divina.
          Seus ossos eram de ferro. Nadara de norte a sul o Rio Pomba, e isto fizera da mesma uma fulana de força e fôlego.
           Relatou-me tanto! Tudo isso em questão de pouquíssimos minutos - menos de cinco. Esqueci-me, pois, de perguntar-lhe o nome.
           A velhota deu-me as costas com um sorriso agradável, desejando-me bons votos. Levou consigo um ramo de flores amarelas minúsculas e partiu para onde minha consciência somente imagina em isenção de certezas.

R.VillasBoas

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