quinta-feira, 11 de abril de 2013

A Primeira Epístola

Segunda-feira, em algum lugar da costa leste - Oceano Pacífico

Caro Olavo,

Nada tem sido como as veredas distantes com as quais estávamos acostumados. O vento tem tocado forte as velas, e o cheiro de venturas e grilhões quebrados paira sobre nossos narizes.
         Não há o que comer em variedades. Abastece-nos o estômago alguns quilos rotineiros de peixe e folhas enrugadas muito amargas, que escorrem as sílabas salgadas do Pacífico. Nunca ousamos guerrear contra o escasso tom de novidades, pois em mares como estes não há vitória por parte dos terrenos leigos.
          Há certa ansiedade quando transitamos e avistamos alguma ponta de terra firme. Cruzamos, ao longe, as águas filipinas, ao passo que, logo após, enfrentamos a maré agitada da Indonésia - tudo isso em uma média de dois meses. Acredite! Paramos por poucos dias em um vilarejo que muito bem nos recebeu, situado em um distrito das Ilhas Salomão, até que pudéssemos aguardar por mais notícias. Não tardarei a fincar meus pés efemeramente em algum outro canto; então trate de responder o quanto antes.
         As aves brancas sempre saberão onde me encontrar. Jamais confie nas cinzentas.

Edgard M.
[Rafael Villas Boas]

         

Um comentário:

  1. Essa racionalidade na escrita me faz crer em uma materialidade livresca.

    Tenho gostada. Antes curtido. Agora comentado.

    Muito bom mesmo!

    ResponderExcluir