Eram belas, sim, as
maravilhas do Rio de Janeiro. E como parte integrante destas, a Cidade do
Sorriso não poderia ser deixada de lado como em um chá mal educado onde os ratos
esperam ao chão, aflitos por farelo ou migalha. Tinha lá suas tantas
arquiteturas do Mestre Niemeyer, bem como a rotina dos corpos belos e
simétricos da praia de Icaraí, mas ficava muito longe de si mesma, a cidade –
quão pobre era! É necessário que se diga em linhas calmas o que de fato são os
ventos por lá. Não imagine, você, que o verão pelas terras fluminenses é brando
e até admirável como o nosso. O sol é chato, pomposo, desdenhoso, exibe-se mais
por aquele litoral. Não é como na serra, que teme mostrar demasiadamente suas
graças. Por aqui, a política de beleza está contida no verde, na fauna diversa,
nas cantigas, nos versos que descem a Mantiqueira, nos sorrisos onde impera o
minério de ferro.
Não presenciei os belos ouvintes da
bossa em terras cariocas. O tempo em que vivi por lá foi suficiente para saber
que Vinícius realmente não vive mais na Lopes Quintas, bem como conhecer os
motivos de Drummond por Minas Gerais – Era de fato um doente ufano pelo
terreiro mineiro, e de sua poesia pude extrair nada menos que uma paixão
ardente pelas pompas da estrada real.
Embora meus dias tenham sido
deprimidos quando em Niterói e Casimiro de Abreu, foi por lá que minha
literatura esteve mais árdua, quente, espontânea...; sinto-me hoje um falso
poeta, uma fraude mais evidente a cada dia que se passa. Não tenho escrito como
antes, e penso que as letras têm me deixado sozinho, vingando-se do tempo em
que as deixei de lado – Mal sabem estas riquezas a sombra fria que perpassou
por mim, que cortou aos poucos meu sentimento pelo mundo, me ferindo como nunca
dantes.
Mas voltei. E gostaria que estivessem
comigo.
R.VillasBoas