quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O Duque das Terras do Sul

Era noite muito fria. Só podia se ouvir o barulho chato de esquilos correndo de um lado para outro, tentando se abrigar e se proteger do gelo e da neve, que passavam como vilões.
       Dentro do casebre de madeira havia somente uma chama que crepitava alto, estalando assanhada por entre as grades que protegiam a lareira do meio externo. E ali, sentado de frente para a mesma, um homem tentava se le
vantar, assustado e muito frenético, entre protestos; e apontava o dedo para o neto de pouca idade.
      - Ouviu bem o que eu disse, filho? - bradava o senhor entre gestos calculados - Procure por Ernesto. ERNESTO! Diga que quer falar com o duque das terras do sul. Não mais que isso!
         O menino só escutava, atento.
       - Em menos de quinze segundos já terá partido - disse o velho com as mãos trêmulas - E guarde segredo, rapazinho. Guarde segredo! Nesse mundo de fantasias, em nada se pode confiar. Dizem que até as árovres ouvem. E é verdade!
        O garoto não esperou nem mais meio segundo e deu de costas, abrindo a porta em um ranger tosco, topando com um vento muito gelado que deixava cair poucos flocos de neve no tapete de pele de urso. Fechou-a e partiu.



R.VillasBoas

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A torre cinzenta

Somente o que fiquei sabendo é que iriam tirar uma por uma, todas as crianças. Dona Consuelo jamais deixaria que orfãos ainda permanecessem por ali - não por querer livrar-se, mas por querer o bem.
       Toda semana saía dali um jovenzinho, sabendo que nunca, outra vez, teria de comer a sopa rala de batata e grãos que serviam naquela torre cinzenta da ala norte do orfanato, onde já haviam morrido cerca de sessenta crianças em um incêndio curioso e esquecido. Não mais.

R.VillasBoas