terça-feira, 14 de maio de 2013

Uma lembrança de Paliporteno

Duas luas ainda brilhavam no céu, e isso permaneceria assim até que o segundo solstício retornasse e trouxesse a calada habitual.
          O pé da Montanha de Türn-Ad-Usd já havia se dissipado em pequenos pedaços, que serviam de obstáculo aos demônios da ilha do norte que se aventuravam por ali. Nada que se plantasse vivia; nem mesmo o trabalho. Tudo era questão de ignorância. A cavalaria alada que servia de sentinela ao gigante rochedo já estava enterrada há muito tempo, vítima do ódio e do desgosto da raça oposta. Os deuses que habitavam o mais alto planalto não foram piedosos - aliaram-se aos meio-cavalos de cor vermelha, e neles fizeram crescer a dor, o mau e a sede da derrama sangrenta.
           O topo ainda estava quieto, intacto. A torre mantinha-se silenciosa e fechada, demonstrando seu luto quase eterno aos cavaleiros de cor branca que empunhavam lanças enormes. 
            Hagog nunca entendeu, e fez questão de transmitir, aos viajantes o horror perene de toda a população que já se encontrava apenas na memória fria do País de Paliporteno.
            Mesmo que longínqua, a verdade transpassava o vale, cortava o leito do rio e soprava com tristeza o alto da torre.

R.VillasBoas 

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